domingo, junho 18, 2006

Pegue um pouco da brisa do mar
Misture à terra vermelha destes pastos
Colha uma gota da chuva de março
E de as fadas deste céu azul a voar

Com mãos delicadas e pequeninas
Cores, formas e aroma se põe a moldar
Quantas risadas, ninfas meninas!
Pr´um tanto de emoção se formar

E assim, nos encantos da magia
Envoltos em toda poesia
Os sentimentos se tornam reais

Contudo, esbraveja a razão
Traz na alma a desilusão
E faz dos sonhos coisas banais...

Silêncio

Um silêncio que sufoca
Que agride e incomoda
Turvando o meu prazer

Um silêncio complacente
De uma mente delinqüente
Invadindo o meu ser

Um silêncio torturante
Que faz uso o militante
Nesta guerra do querer

Um silêncio arrogante
Tem nos olhos o meliante
Que me furta sem eu ter

Um silêncio provocado
Por um ódio mastigado
Que me fere sem saber

Um silêncio que escuta
Meus gritos de lamuria
Sem que nada possa fazer

Um silêncio que abriga
Os desejos de uma vida
Impedida de viver

Um silêncio não ouvisse
Se mil vezes surda fosse
Evitando mais sofrer...

Amanda Oliveira

sexta-feira, junho 16, 2006

Surpresa

Carinho em abraços
Abraços em palavras
Palavras em beijo...

Beijo que é teu
Palavras pra ti
Abraço teus braços
Carinho teus olhos

Uma palavra, carinho
Um gesto, surpresa
Um beijo, sua boca
Abraço você!

Amanda Oliviera 14/06/06

quinta-feira, junho 15, 2006

Presente de Dia dos Namorados atrasado também vale...

Namorados

- Carlos Drummond de Andrade -

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado....
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo...
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos emedo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fadas. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma nuvem de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases e palavras de galantearia.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário, pra fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

quinta-feira, junho 01, 2006

Camões hoje, como seria...

Outro nome ao amor daria
Sentimento que fere e machuca
Faz de conta que é alegria
Mas se amarga na tortura

Diante tamanha desilusão
A métrica pouco importaria
Pois daria asas a razão
Sem perder a poesia

Esconder-se-ia na escuridão
E aos poucos se desfazendo iria
Destruindo toda a criação

Se vivo ainda fosse, não aguentaria.
Ver tamanha distorção.
Daquilo que chamou amor um dia.

(Amanda Oliveira maio/06)

Prece

Devolva agora a minha vida
Traz-me de volta a poesia
Retorne a mim o meu encanto
E desde já que suma o pranto

Leve embora a dor maçante
Traga seus olhos, olhar pedante.
E seu abraço, falso mistério.
Me envolva agora, amargo tédio.

E desde logo quebre a magia
Entorne toda a poesia
E o meu corpo, deixe em paz.

Agora suma da minha frente
O seu silêncio tão deprimente
Porque pra mim já tanto faz...

(Amanda Oliveira maio/06)